Muito podíamos dizer sobre esta bicicleta. Podíamos começar pelo seu estado lastimável, quando chegou às mãos do Bruno. Podíamos fazer uma espécie de tabela cronológica, onde explicávamos todo o progresso de recuperação. Podíamos fazer mil e uma coisas, mas vamos focar-nos no trabalho final – eis uma Orbea Moncayo, no seu esplendor máximo. Arrisco dizer que pode ser o modelo em melhor estado que anda por aí, num misto de orgulho no que conseguimos fazer e de desafio para ver se nos chegam fotos de outro utilizadores desta bicicleta, que partilhem do mesmo sentimento que nos enche o peito de vaidade.
Partindo do pressuposto que não seria possível recuperar alguns acessórios e componentes, também seria igualmente dispendioso (tempo e dinheiro) encontrar substitutos exatos para muitas peças que estavam, à falta de melhor termo, impróprias para serem usadas. Portanto, a visão do Bruno foi utilizar material à altura do que esta bicicleta merecia, utilizando marcas que já deram muitas garantias a esta casa.
Vamos começar com o mais vistoso – o quadro (em aço, igual à forqueta). Arrisco dizer que se vissem o quadro, quando cá chegou, apostavam ser de outra bicicleta. O Bruno pôs mãos à obra, fez das tripas coração, como se diz mais para os lados do Porto e tratou do seu rejuvenescimento. Abrindo um bocadinho o livro, o mecânico cá da casa começou por pintar o quadro de preto, conforme é visível nas fotos. O lettering dos autocolantes foi manualmente desenhado com uma ideia irredutível em mente – tinha de ficar igual ao original. O último ponto que importa destacar neste tema são os contornos dourados nos lugs do quadro. Também foram inspiração do Bruno, que quis dar um ar ainda mais clássico, a uma bicicleta que já respirava tradicionalismo em cada peça.
A transmissão é o pulmão de muitas bicicletas – os amantes de single speeds irão, certamente, perdoar esta tirada. Com esta ideia em mente, recuperamos uma pedaleira Suar, de dois pratos, totalmente clássica. Escusado será dizer que precisou de alguns carinhos do nosso criativo das ferramentas. A transmissão é, provavelmente, mais conhecida do público que acompanha estes modelos mais clássicos – uma Sachs Huret 12v. O ponto menos comum e que muito nos orgulhamos são os shifters. Prática habitual da Go By Bike, e como não podemos deixar de destacar, queríamos tornar a bicicleta o mais citadina possível. Portanto, os manípulos de velocidades fizeram casa do avanço. É uma opção bonita, prática e sui generis.
Se a transmissão é o pulmão desta bicicleta, o que podemos chamar aos travões? Sem me lembrar de nenhum órgão que espelhe a importância dos travões, são eles que poem fim às investidas (às vezes) demasiadas otimistas do ciclista. Para manter o tradicionalismo desta montagem, fomos buscar uns Lusito M-81, também eles clássicos por si só. As manetes estão integradas no guiador, juntamente com o avanço.
A elegância das rodas também só foi conseguida graças a um enraiamento estudado, naqueles aros 700c, bem destacados nas fotos. O que quero dizer com isto? No fundo que os raios são de inox, para evitar a erosão habitual de zonas mais costeiras e húmidas do nosso país. Os raios culminam em dois cubos da Sangal, de 36 furos e de aperto rápido, que tiveram o prazer de um tratamento de “pele”, fruto do polimento embelezador que foram alvo. Num gabinete de estética, seria dito que ficaram um década mais novos.
Sem querer alongar um texto já longo, finalizo com as cores. E é neste tópico que desvendo os pneus, que foram escolhidos a dedo – Michelin Dynamic Classic. Digo que foram selecionados propositadamente pelo aspeto clássico (redundante com o nome do produto), adequado à época e ao aspeto que queríamos dar a esta bicicleta. E voltamos às cores – apesar do topo em preto, tinham de ter uma tira em castanho, para fazer a ligação aos acessórios – punhos, selim e cabos de travão. Vamos fazer uma viagem para este último ponto: partimos de Braga, Portugal, local do renascimento desta Orbea, para Espanha, a sua terra natal. Para dar mais arcaboiço a esta bicla, fazemos um desvio por Itália, que viu nascer este selim Selle Bassano e estes punhos, da Selle Monte Grappa.
Se houve paciência para me ler a deambular sobre trabalhos de oficina, certamente que haverá interesse em explorar mais trabalhos do Bruno, na nossa página de oficina – aqui!