Permitem-me que faça um texto com menos dados estatísticos e com mais nostalgia? Então aqui vai. E já o Dia da Criança foi na semana passada, falemos sobre isso. E sobre aquela bicicleta que tivemos há uns anos…
Todos nos lembramos de andar de bicicleta quando éramos miúdos, certo? Todos nos lembramos de competir com o irmão, primo ou vizinho… “Achas que chegas primeiro que eu ao portão? Ou queres ver quem é mais rápido até ao fundo da rua?”. E lá íamos nós a pedalar feitos tolos, para ver quem chegava primeiro. Mais nada importava. E chegando à meta, não importava quem ganhava, até porque já estávamos a ver quem chegava mais rápido ao ponto de partida. Não importava se já tínhamos caído e se já tínhamos acrescentado mais uma negra à caderneta que eram as nossas pernas. O que importava era dar mais volta, mais umas pedaladas com aquele nosso amigo.
E aventuras? Íamos a pé? Nah… Era sempre de bicicleta. E a minha era sempre a mais fixe, porque tinha aquela pintura vermelha. “Se andar muito depressa parece que tenho fogo”, achava eu em miúdo.
“Vamos explorar ali o campo?”, perguntava o meu vizinho. “Vamos, mas de bicicleta”, respondia eu. Era sempre de bicicleta. E quando tentamos saltar um buraco que a estrada tinha? Era só pegar numa tábua qualquer que estava perdida na garagem, arranjar uns paralelos para prendar e voilá, tínhamos uma rampa. Resultado? Bicicleta para um lado, nós para o outro. E mais um arranhão para juntar à coleção. Mas no dia seguinte, não fossemos nós crianças persistentes, estávamos novamente a tentar fazer daqueles saltos que só se via na televisão.
E daquela vez que o nosso pai nos levou a andar de bicicleta ao parque, ao rio ou na praia? “O meu pai é o maior! Ele consegue desmontar a roda da frente para caber na mala!”. Não havia maior felicidade do que ir pedalar para longe de casa, explorar o desconhecido, sempre com o pé no pedal.
Hoje, se calhar, as aventuras são outras… Envolve mais tocar num ecrã vezes sem conta. É mais seguro, os miúdos terão uma coleção bem mais reduzida de negras e arranhões. Contudo, neste caso, esfolar as pernas é sinónimo de criar memórias, coisa que tocar num ecrã não faz. Ainda assim, nada se compara à alegria de ver uma criança a tentar pedalar mais rápido do que o pai. E a ganhar de forma miraculosa.
Nada se compara a ver dois miúdos, de idade aproximada, a pedalar pela avenida fora. Bicicleta é exercício, algo recomendado não só às crianças, mas a todos. Bicicleta é saudável. Mas mais importante ainda, bicicleta é diversão. Uma coisa é certa: se os pais andarem de bicicleta, os filhos vão querer andar também. Fala alguém cujo pai foi do Porto a Ponte de Lima no último sábado… Só porque sim.